segunda-feira, 13 de junho de 2011

Um texto do Mestre Dorin.

Decidi postar esse artigo do Dorin depois de ler um texto no blog da Gica.     Para quem não sabe, mestre Dorin é psicólogo, jornalista e professor, uma das pessoas mais inteligentes que conheço e acima de tudo um grande amigo, que eu admiro muito!





A PSICOLOGIA E OS ESTADOS D’ALMA

                                                                                                                                               Lannoy Dorin*

                O termo grego mystikós significa mistério relativo às cerimônias religiosas; inclinação para crer em seres e forças sobrenaturais, em mistérios; a atitude baseada mais na intuição e no sentimento do que na percepção e no pensamento, tendo por objetivo a união com a divindade. Místico é o indivíduo que sai do chão e se liga ao sobrenatural, ao natural desconhecido; é o que adota a crença de que deve se ligar novamente (religare) à natureza, aos deuses ou a Deus. Defina Deus, que você terá a explicação do que é um místico. Mas Deus não se define! É um símbolo, e, como tal, de significado inesgotável. Ele pode ser tudo aquilo que você tem como maior, mais potente, criador de tudo, onipresente, arquiteto do Universo, as leis da natureza, a eterna energia...Enfim, Deus é uma questão de fé e não de razão. Logo, crer Nele é uma crença baseada na intuição e não na percepção, na interpretação de fenômenos externos, e no pensamento, que é o trabalho mental feito com símbolos, com algo que já passou.
                Portanto, ser místico não é contrariar dogma algum, a não ser o do cientista que só crê nos fenômenos que percebe ou detecta por instrumentos. Mas, será que não existem fatos, aparições, sintomas, acontecimentos astronômicos que são efeitos de causas que não detectamos? (1) Exemplos são chamados estados d’alma, como solidão, saudade, distimia (“baixo astral”), receio, remorso, angústia, vontade, inveja...
Pelo exposto, pode-se deduzir que místico é o que pressente, supõe, infere do que a ciência lhe diz. É o que, parafraseando Shakerpeare diria que há muito mais coisas entre nosso conhecimento científico e a realidade.
                Na terceira de uma série de quatro entrevistas dadas por C.G. Jung a Richard I. Evans em 1957 (2), quatro anos antes de falecer, o mestre de Zurique, o “velho sábio”, disse: “Existem muitas coisas sobre as quais as pessoas não fazem sequer idéia.”... “Todos os que afirmam que sou um místico não passam de perfeitos idiotas. Eles não compreendem a primeira palavra da Psicologia.”
                A primeira palavra da Psicologia é psique (diz-se psique). Esse termo é grego e significa algo que você não vê: alma, alento, sopro de vida. Psychein é soprar, bafejar; psychrós é frio; e psychós é fresco. O grego achava que a alma, o que animava o ser humano, era o ar frio que penetrava pelas narinas do recém-nascido. O último suspiro do moribundo era a despedida deste “vale de lágrimas”.
                O psicólogo estuda a alma de acordo com o conceito que tem dela. Um conceito bem comum é o de conjunto de fatos e processos psíquicos. E ele a estuda através do comportamento aberto, dos fenômenos como aparecem a qualquer observador. Mas ele sabe, ou deve saber, que nem todo fenômeno psíquico pode ser deduzido do comportamento. Por exemplo, a intuição, o pressentimento não externado. Da mesma forma, vários outros estados d’alma , como luto, tédio, fé, esperança, amor à primeira vista, simpatia, antipatia, “dor de cotovelo”, confiança, desconfiança...
                Sabemos que a Psicologia trabalha com dados objetivos, e, com base neles, elabora teorias. A Psicologia Clínica, com sinais comportamentais e sintomas relatados pelo cliente. Mas, este, muitas vezes, por mais próximo do que seja seu estado d’alma, não consegue dizer exatamente o que sente, como, por exemplo, o seu estado anímico após uma desilusão amorosa. É por isso que muitos psicólogos clínicos, como os existenciais humanistas, ou fenomenologistas, dizem que, mais do que descrever e querer interpretar o comportamento de um cliente, é preciso compreendê-lo. É o sentir com, a que chamam de empatia.

Um comentário:

  1. Adorei o artigo, obrigada por essas belas palavras.
    “Todos os que afirmam que sou um místico não passam de perfeitos idiotas. Eles não compreendem a primeira palavra da Psicologia.”
    Muita alma para nós sempre, Giovanna Dornelles Gica

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